sábado, 5 de março de 2011

Diário de uma volta...



Acabo de voltar do Rio, de uma viagem que mudou coisas e perspectivas em mim. Minha última viagem ao Rio havia sido pelos piores motivos da minha vida, para chorar, rezar e ter a certeza que minha vida jamais seria a mesma. Fui para velar, cremar, rezar na missa de 7o dia do meu irmão amado, Rafa. Minha última imagem do Rio foi a maravilhosa homenagem no túnel que estampa seu rosto e mensagens de amor e paz na parede, um evento que coroou de amor os piores dias da minha vida. Depois disso não voltei mais porque só de pensar no Rio meu coração doía.
Olho pra Cissa, que tem a pior de todas as nossas dores e que, ainda por cima, vive no mesmo lar que viveu com ele, acorda de frente pro quarto dele e atravessa aquele túnel diversas vezes pra ir trabalhar, pra seguir a vida e penso: que força monumental tem essa guerreira, que orgulho dela. Cada um lida como pode, se fortalece como consegue. Eu fugi. Fugi do Rio, fugi de eventos, fugi de mim. Por um período foi como se eu respirasse por máquinas, como se algo vivesse por mim. Sofri - e ainda sofro muito, ainda tenho dias sufocantes em que fico trabalhando internamente o sorriso e as lembranças das coisas boas que só ele me ensinou e trouxe pra minha vida. Penso no quanto ele não me quer sofrendo e em tudo que ele merece que eu faça. Por mais que haja toda uma compreensão sobre as razōes de Deus e os caminhos de cada um de nós, ainda é muito muito difícil pensar que alguém tão incrivelmente bom e doce, não faz mais parte fisicamente de nossas vidas.
Voltei ao Rio para participar do show que minha mãe fez no Rival com convidados. Minha primeira apresentação retratou exatamente essa fuga, quando entrei no palco nervosíssima, errei letra, tremi feito vara verde... Me impus uma série de coisas, coloquei tanta coisa na cabeça, tanta pressão, tanto medo, tanta lembrança, que, mesmo tendo amor e carinho do público, não saí satisfeita comigo. Não fui eu ali, não estava inteira... Voltei correndo pra SP logo cedo no dia seguinte, como se fugindo de novo de mim, da dor.
Graças à uma pessoa que não pode participar na semana seguinte e a generosidade da minha mãe, voltei para mais dois shows, mas voltei diferente. E foi inacreditável como isso refletiu em vários aspectos da minha vida.
Às vezes as lições, mensagens, vêm da maneira mais besta e despretenciosa, de forma até lúdica e até meio adolescente. Durante a semana em que estive em São Paulo, me joguei na 6a temporada de um seriado americano que amo. Em um episódio específico uma personagem sofria pela perda de alguém que se foi ao salvar sua vida num acidente. Ela para sua vida para pesar a morte do personagem e toma uma dura da melhor amiga dele dizendo que, se ela o conhecesse, saberia que esse era o momento de honrar a vida dele, porque ele era vida. Isso me bateu de forma inexplicável. Pensei na minha fuga e no quanto o Rafa era a definição mais doce, serena, sensata e linda da vida. Voltei pro Rio com outro olhar, sem medo, com vontade de uma série de coisas.
Cheguei direto pra Rádio Roquette Pinto, para fazer um pocket show ao lado do querido e monstro do violão, Diego Figueiredo e minha mãe. Público amoroso, entrevista de Ricardo Cravo Albin, palavras da direção da Rádio que me tomaram de vez. Mais tarde, fiz a melhor apresentação da minha vida, por tudo que representou internamente. Havia calma, havia clareza, havia amor, todos cantando juntos e no fim, houve uma plenitude que não conseguiria explicar.
Após o show vesti minha camiseta que estampa o rosto do meu lindo irmão e me joguei na Fundição Progresso para sambar feliz ao som de Maria Rita e Casuarina, artistas de quem sou fã absoluta. Foi como se eu tivesse exorcizado algo, como um novo começo, como um estalo que chega sem avisar. Gargalhei, sambei, cantei de novo feliz no Teatro Rival (além de Diego Figueiredo e João Rebouças, ainda dividi palco com Danilo Caymmi!!) e saí do Rio cheia de planos e idéias.
Criei formatos para novos shows, novas possibilidades de parcerias e, mais importante, retomei com tudo o meu cd, que ficou praticamente pronto bem quando as tragédias e as sombras tomaram conta da minha vida. Refiz algumas coisas nele, consertei outras, retomei as rédeas desse meu sonho, que será finalmente lançado esse semestre, quando faço 10 anos de carreira. Fui embora para Belém, fiz meu primeiro grande show, com convidados luxuosos e um público que me abraçou e cantou comigo. Ao final disso tudo, percebi meu recomeço, o término de um ciclo doloroso e abri os braços pelo ciclo que se inicia.
Hoje faço 31 anos e só consigo pensar em uma coisa: agora sim nosso anjo Rafa teria orgulho de mim, agora sim me sinto honrando sua vida. Aonde quer que você esteja, meu irmão amado, esse sonho eu viverei por nós dois...

 
Teatro Rival - Fevereiro de 2011 (video de @basd)

UPDATE: Duas músicas inéditas já estão disponíveis!! No meu novo site: meu novo site está a "Tu" de Almirzinho Gabriel. E no lindíssimo site da Tatiana Loureiro está "Nostálgico", como música-tema da nova coleção, de Yuri Guedelha e Cassique. Espero que gostem!!!